8.3 Estudos longitudinais

Um estudo longitudinal é um tipo de investigação observacional em que os dados são coletados ao longo de um período prolongado, envolvendo múltiplas observações em diferentes momentos no tempo. Esse tipo de estudo permite acompanhar mudanças, tendências e a evolução de condições, comportamentos ou características ao longo do tempo, oferecendo uma perspectiva dinâmica dos fenômenos estudados.

Diferentemente dos estudos transversais, os estudos longitudinais são mais adequados para identificar relações temporais entre fatores de risco e desfechos, permitindo melhor compreensão sobre possíveis relações causais.

Um estudo longitudinal sobre hipertensão acompanharia o mesmo grupo de pessoas por vários anos, medindo regularmente sua pressão arterial e sua exposição a fatores de risco, permitindo assim observar como a pressão arterial se desenvolve ao longo do tempo e identificar quais fatores podem estar associados ao seu aparecimento ou progressão.


8.3.1 Estudos de casos e controles

Estudo de casos e controles (retrospectivo)

Figure 8.2: Estudo de casos e controles (retrospectivo)


Um estudo de caso-controle, geralmente retrospectivo, começa com a identificação de um grupo de casos (indivíduos com uma doença) e um grupo de controles (indivíduos sem a doença).

Por meio da anamnese o profissional de saúde ajuda o paciente a se recordar (pesquisa retrospectiva) de situações no passado que possam, de algum modo, configurar a exposição ao fator de risco pesquisado. As prevalências de exposição a um determinado fator são então medidas nos dois grupos e comparadas.

Se a prevalência da exposição for maior nos casos do que nos controles, esta exposição pode então ser um fator de risco para a doença. Se a prevalência for menor entre os casos, então esta exposição pode ser um fator de proteção para a doença.

Este método é particularmente útil para investigar doenças raras ou condições com longos períodos de incubação.


Algumas vantagens:

  • são estudos relativamente baratos
  • podem investigar vários possíveis fatores de risco e são úteis para doenças raras

Algumas desvantagens:

  • são muito vulneráveis a vícios de seleção e observação
  • não são adequados para investigar exposições raras
  • não podem obter estimativas da incidência de doença


8.3.2 Estudos de coorte


Estudos de coorte (prospectivos)

Figure 8.3: Estudos de coorte (prospectivos)


Estudos de coorte são prospectivos. Assim, um grupo de indivíduos expostos e outro grupo de não expostos a uma causa potencial de doença são acompanhados ao longo do tempo.

A incidência da doença é então comparada entre os dois grupos.

Para conduzir este tipo de estudo, é fundamental que uma hipótese clara seja formulada previamente ao início da investigação.

Considerando que esses estudos tendem a ser muito caros, eles geralmente são implementados somente depois que a hipótese foi explorada com outros desenhos de estudo mais econômicos.


Algumas vantagens:

  • a exposição é medida antes do início da doença;
  • as exposições raras podem ser estudadas selecionando grupos de indivíduos apropriados;
  • a incidência da doença pode ser medida nos grupos de expostos e não expostos.

Algumas desvantagens:

  • o estudo pode ser extenso e caro, especialmente se o período necessário para observar o efeito for prolongado;
  • mudanças na condição de exposição e nos critérios diagnósticos podem ocorrer durante o período do estudo e isto pode afetar a classificação dos indivíduos em expostos e não expostos e em doentes e não doentes;
  • a perda de indivíduos durante o seguimento pode introduzir sérios vieses no estudo.


8.3.3 Estudos clínicos aleatorizados


Estudos clínicos aleatorizados

Figure 8.4: Estudos clínicos aleatorizados


Em estudos epidemiológicos experimentais, também conhecidos como estudos de intervenção ou ensaios clínicos, os indivíduos participantes são alocados a diferentes grupos de acordo com a presença ou não de exposição. No entanto, nesses estudos é o pesquisador quem define quais os indivíduos que receberão a exposição e esta exposição é uma medida preventiva ou terapêutica.

Este tipo de estudo tem como principal vantagem a possibilidade de garantir a validade dos resultados.

Os estudos experimentais são classificados em dois grandes grupos: as intervenções terapêuticas e as intervenções preventivas.

As intervenções terapêuticas incluem pacientes que apresentam uma condição de saúde específica e o objetivo é avaliar a capacidade de determinada intervenção produzir a recuperação, reduzir sintomas, prevenir recrudescimento ou diminuir o risco de uma evolução desfavorável. Para este tipo de estudo, a unidade de amostragem e análise é o indivíduo.

As intervenções preventivas envolvem pessoas sadias e o objetivo é avaliar a capacidade de uma intervenção em prevenir a ocorrência de um evento indesejado. As unidades de amostragem nesses casos podem ser tanto os indivíduos como comunidades.

Considerando que os participantes são deliberadamente selecionados pelo pesquisador para receber ou não uma intervenção, os estudos epidemiológicos experimentais envolvem questões éticas importantes e estão sujeitos a regulação legal.