8.7 Medidas de associação em estudos de coorte
Uma tabela é uma forma de representação retangular que permite mostrar clara e resumidamente os dados correspondentes a uma ou mais variáveis, visualizar o comportamento dos dados e facilitar o entendimento das informações. Uma tabela de dupla entrada permite extrair facilmente as proporções individuais, marginais e associadas relativas a duas variáveis (tabelas com mais variáveis são possíveis de serem construídas).
Especificamente para estudos epidemiológicos, admita que as variáveis envolvidas se refiram a contagens relacionadas à ocorrência de uma doença em dois grupos de pessoas sob diferentes exposições. O grupo não exposto ao fator de risco é frequentemente usado como referência.
- o grupo de pessoas expostas a um determinado fator de risco;
- o grupo de pessoas não expostas.
Fator de risco | Desfecho observado (doença) | Total | |
Presente | Ausente | ||
Exposto | (a) | (b) | (e) |
Não exposto | (c) | (d) | (f) |
Total | (a + c) | (b + d) | (e + f) |
Exemplo: Incidência de baixo peso ao nascer em recém-nascidos de Pelotas (RS) segundo o hábito tabágico da mãe durante a gravidez (1982)
Classificação da mãe | Baixo peso ao nascer | Total | |
Sim | Não | ||
Fumante | 275 (a) | 2.144 (b) | 2.419 (e) |
Não fumante | 311 (c) | 4.496 (d) | 4.807 (f) |
Total | 586 | 6.640 | 7.226 |
\[
I_{e}=\frac{(a)}{(e)} \times 100 = \frac{275}{2.419} \times 100 = 11,37 \%
\]
Interpretação: 11,37% das crianças analisadas e que têm mães tabagistas nasceram com baixo peso.
8.7.1 Incidência observada de nascimentos com baixo peso entre mães não expostas ao risco (não fumantes): \(I_{0}\)
\[ I_{0}: \frac{(c)}{(f)} \times 100 = \frac{311}{4.807} \times 100 = 6,47 \% \]
Interpretação: 6.47% das crianças analisadas e que têm mães não tabagistas nasceram com baixo peso.
8.7.2 Prevalência de nascimentos com baixo peso na população estudada
\[ \frac{(a) + (c)}{(e) + (f)} \times 100 = \frac{586}{7.226} \times 100 = 8,11\% \]
Interpretação: 8,11% das crianças avaliadas nasceram com baixo peso.
8.7.3 Diferença de risco (Risco atribuível - RA)
A diferença de risco (também chamada de excesso de risco ou risco atribuível) é a diferença nas taxas de ocorrência entre os grupos expostos e não expostos da população. Essa medida quantifica o excesso absoluto de risco associado a uma dada exposição. É uma medida útil do problema de saúde pública causado pela exposição ao fator de risco.
Analisando-se as incidências na Tabela vemos que a diferença de risco de nascimento de bebês com baixo peso entre mães fumantes e não fumantes é:
\[\begin{align*} RA & =\frac{(a)}{(e)} - \frac{(c)}{(f)} \\ & = \frac{275}{2.419} - \frac{311}{4.807} \\ & = 0,11368334 - 0,064697316 \\ & = 4,9 \% \end{align*}\]
Interpretação: 4,9% do risco de nascer com baixo peso pode ser atribuído ao fato de terem mães tabagistas.
8.7.4 Razão de risco (Risco relativo - RR)
A razão de risco (também chamada de risco relativo) é o quociente entre as taxas de ocorrência entre os grupos expostos e não expostos da população. Pode ser interpretado como a probabilidade de um indivíduo exposto apresentar o desfecho relativa à de um indivíduo não exposto também apresentar.
- razão de risco maior que 1: fator de risco;
- razão de risco menor que 1: fator protetor.
Analisando-se as incidências na Tabela vemos que a razão de risco de nascimento de bebês com baixo peso entre mães fumantes e não fumantes é de:
\[\begin{align*} RR & = \frac{\frac{(a)}{(e)}}{\frac{(c)}{(f)}} \\ & = \frac{\frac{275}{2.419}}{\frac{311}{4.807}} \\ & = \frac{0,11368334}{0,064697316} \\ & = 1,76 \end{align*}\]
Interpretação: As crianças de mães tabagistas têm aproximadamente 1,76 vezes mais risco de nascer com baixo peso em comparação com as de mães não tabagistas.
8.7.5 Risco atribuível proporcional (Fração etiológica - FE)
Quando se acredita que uma determinada exposição é um fator de risco de uma determinada doença, a fração atribuível é a proporção da doença na população específica que seria eliminada se a exposição fosse evitada. As frações etiológicas (frações relacionadas à origem da doença) são úteis para avaliar as prioridades da ação de saúde pública.
O Risco atribuível proporcional (fração etiológica) é, assim, a proporção de todos os casos que podem ser atribuídos diretamente a uma exposição específica. Pode ser determinado pelo quociente da diferença de riscos das incidências pela incidência entre a população exposta.
Esta medida é útil para determinar a importância relativa das exposições para toda a população. É a proporção pela qual a taxa de incidência do desfecho em toda a população seria reduzido se a exposição fosse eliminada.
Observe como calcular o Risco atribuível proporcional (Fração etiológica - FE):
\[ FE = \frac{I_{e}-I_{o}}{I_{e}} \times 100 \]
- \(I_{e}\): é a incidência da doença no grupo exposto;
- \(I_{o}\): é a incidência da doença no grupo não exposto.
Analisando-se as incidências na Tabela vemos que o risco atribuível proporcional de nascimento de bebês com baixo peso entre mães fumantes é de:
\[\begin{align*} FE = & \frac{\left(\frac{(a)}{(e)} - \frac{(c)}{(f)}\right)}{\frac{(a)}{(e)}} \\ = & \frac{\left(\frac{275}{2.419} - \frac{311}{4.807}\right)}{\frac{275}{2.419}} \\ = & \frac{\left(0,11368334 - 0,064697316\right)}{0,11368334} \\ = & 43,09 \% \end{align*}\]
Interpretação: 43,09% dos casos nascimentos de bebês com baixo peso podem ser atribuídos diretamente ao hábito tabagista das mães.